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sexta-feira, agosto 20, 2010

O que eu quero... Sossego!

     Quinta-feira, volta pra casa depois de mais um dia de aula na faculdade. Seria mais uma quinta-feira normal se não fosse por um fato inusitado: Um raio caiu duas vezes no mesmo local.
     Mas, como assim? Eu explico.
     Minhas amigas e eu, e um bate-pato descontraído dentro do ônibus, fazíamos piada sobre o assalto que sofremos no final do mês passado, dentro do ônibus. Eu dizia que iria confeccionar uma camiseta com os dizeres: "Não me assalte. Sou Professora!". Entre gargalhadas, minha amiga Aline disse: "-Ah, então vou fazer uma assim: 'Não me assalte, sou operadora de fotocopiadora!'
     Enfim, tentamos amenizar um pouco esse fato que foi tão traumatizante para nós. Para se ter uma ideia, toda vez  que o ônibus em que estamos passa pelo ponto no qual os bandidos subiram, eu fico observando quem está no ponto, e quem vai subir. Dessa vez, minha "visão de águia" falhou, e eu não soube interpretar minha intuição.
    Pegamos o ônibus por volta de 21:20h, no ponto em frente a faculdade. Ônibus cheio, oba! Porque ônibus vazio é sinal de risco (Nunca viajamos tão felizes como sardinha em lata!). Fui a primeira a passar pela roleta, e até agora me sinto culpada por isso. Havia um homem sentado de frente para o cobrador, e ao encará-lo, fui acometida de um arrepio tenebroso. Achei que era gripe, e encostei para que as minhas amigas passassem para a parte de trás do ônibus. Mais ninguém viu o cara.
     Fomos todas para a traseira do ônibus e começamos a conversar sobre as camisetas já mencionadas. Passamos pelo ponto onde subiram os bandidos da outra vez. Ufa! Ninguém subiu. Mas esse alívio durou pouco. Logo que o ônibus saiu do ponto, os caras anunciaram o assalto. O cara, aquele que me deu arrepio, era o mesmo bandido que eu não reconheci (eu não conseguia lembrar da cara de nenhum deles, que eram três. Acho que foi um mecanismo de defesa do meu cérebro). Minha amiga Gê, que estava sentada ao meu lado só conseguiu soltar um "-Ah, não, de novo não!"  e nós começamos a esconder tudo o que podíamos. Dessa vez, do nosso grupo só a Gê foi roubada. Levaram a mochila dela inteira outra vez (mochila que ela havia comprado no dia anterior, pois os mesmos bandidos levaram a outra). Desta vez eles levaram os documentos dela. E lá foi ela parar na delegacia outra vez.
     Enfim, da primeira vez melevaram a bolsa com o meu fichário, uma apostila, canetas, meu chaveiro eum aparelho bem velhinho de mp3. Da Gê levaram a mochila inteira, com livros que ela nem tinha quitado ainda, cadernos, remédio...
     O que mais está me remoendo é a culpa de ter passado primeiro naquela bendita roleta e ter tapado com o meu corpo a cara do desgraçado! Se a Aline tivesse passado primeiro, ela o teria reconhecido e nós não seríamos novamente vítimas desse pesadelo!
     Estamos apavoradas. Este é o termo certo. Pavor. E eu mais ainda. Tenho a sensação de que o cara me reconheceu, por conta da encarada que originou o arrepio. Agora temos de arrumar uma alternativa para voltarmos da faculdade. Aquele ônibus, na volta, eu não pego mais!
     O que mais me irrita e me enoja é o fata de assaltar trabalhadores e estudantes, que voltam pra casa depois de mais um dia de labuta (por que não vão para Brasília, roubar quem realmente tem dinheiro neste país?)... Pra quê levar cadernos e livros? Sim, porque, pela quantidade de material didático que os caras levaram, a essa altura já são PhD...
     Ser assaltada com suas amigas já é uma história a ser lembrada pelo resto da vida. Mas o que dizer quando se é testemunha de que um raio cai sim, infelizmente, duas vezes no mesmo lugar?

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